quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Era da Comodidade

Já é senso comum ouvir que os jovens de hoje leem pouco e passam horas e horas na internet, em salas de bate papo, redes sociais e outros, escrevendo de forma abreviada e repleta de “erros” na norma culta da língua portuguesa. Também é muito comum ouvir que antigamente, a correspondência era apenas por cartas, que relatos de quem viajava ou morava longe, era através dessa forma de comunicação, uma vez que o telefone não era acessível a todos e que nem falávamos de internet ainda.


Também já ouvimos que muitos povos desapareceram sem deixar nada registrado quanto a sua cultura e seus costumes – todos passados de geração em geração por via oral. Todas essas “verdades” que já ouvimos muitas vezes durante o curso de Pedagogia ou até mesmo na Pós Graduação foram lembrados por mim ao ler os textos, realizar a entrevista e para embasar minha opinião na construção desse texto.

Uma das frases que mais me chamou a atenção na entrevista realizada, foi justamente em relação aos meios de comunicação. Ana relatou que após ter adquirido um telefone, nunca mais se preocupou em ter que escrever uma carta para os pais e irmãos, no Rio Grande do Norte. Comunica-se apenas pelo telefone, pois é mais “fácil”. A última carta que Ana tentou escrever foi em 1994, quando estava grávida de seu primeiro filho e era apenas :”mãe, meu filho nasceu”.

Acredito que a facilidade e a rapidez do telefone extinguiram um pouco a importância da escrita de cartas para a comunicação de parentes, por exemplo. Em suas tarefas diárias, Ana raramente utiliza a escrita – para preencher o ponto no local de trabalho, por exemplo, conta com a ajuda de uma colega que anota os horários de entrada e saída; Ana apenas assina o nome no local indicado. O marido a ajuda no banco, ela faz a lista de supermercado de cabeça e já sabe os produtos que precisa comprar, pois vive a mesma rotina há tempos.

Acredito que esse cenário faz com que Ana e tantos outros brasileiros não vejam a escrita com tamanha importância. Tudo o que ela precisa fazer, faz oralmente. E da mesma forma podemos transpor para o filme Narradores de Javé – a história do povoado do Vale de Javé eram mantidas oralmente, e os moradores, ao decidir que precisavam registrar “oficialmente” a importância de Javé, depararam-se com o empecilho da escrita. Podemos dizer que a vida de Ana aqui em São Paulo também não tem nenhum registro – tudo o que lhe acontece aqui é repassado aos familiares no Rio Grande do Norte oralmente, tal qual um povo que repassa sua tradição oralmente.

Com todas as “novas tecnologias”, o conceito que leitura e escrita que tínhamos também mudou, assim como apresenta Magda Soares no texto “Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura”. Refletindo sobre a utilização da era digital para ler e escrever, acredito que nós professores temos que pensar sobre nosso papel na formação dos alunos, pois é necessário que contribuamos para que eles desenvolvam um modo de pensar e agir que possibilite captar a realidade enquanto um processo, se pretendemos contribuir para que os educandos sejam sujeitos das transformações sociais.

É imprescindível que leve-se em conta a diversidade social e cultural presente em cada realidade escolar, pois a forma como cada aluno vê e compreende o mundo é única e os conhecimentos e saberes que acumula também são únicos e devem ser respeitados e valorizados, pois somente dessa forma estaremos caminhando para a inclusão e a participação social democrática. Acredito que para a educação e a alfabetização ter sentido para Ana, por exemplo, ela deve instigá-la a pensar em seu orçamento doméstico, no nome dos produtos que precisa adquirir no supermercado, no nome e número do ônibus que a leva para o caminho desejado, em como preencher o ponto no trabalho... coisas pequenas, mas que fazem parte de sua realidade.

Ana Carolina C de Carvalho
RA 0913579

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