sábado, 21 de agosto de 2010

LER E ESCREVER E SUAS COMPLEXIBILIDADE

Inicio meu texto ressaltando: “Quem escreve, tem a intenção de revelar-se para os outros e traçar um destino de sua escrita como meio de comunicação, saiba essa pessoa ou não, mas essa é a função da escrita”.
Foi muito difícil conseguir realizar a tarefa de entrevistar uma pessoa analfabeta, devido ao constrangimento de expor algo que para muitos é essencial na vida do ser humano, ou seja, saber ler e escrever mesmo que essa pessoa consiga dar conta dos seus problemas cotidianos e pessoais por meio dos diversos tipos de linguagens existentes na sociedade. A sociedade atual possibilita ao individuo se comunicar de diversas maneiras, sendo ele leitor, escritor ou não, basta que manipule, explore as diversas ferramentas disponíveis a ponto de superar ou suprir como desejar o que conhecemos como ANALFABETISMO FUNCIONAL. É importante ressaltar que analfabeto funcional se caracteriza o individuo maior de quinze anos que possui ou nem completou a series iniciais do Ensino Fundamental I, ou seja, até a quarta série, não podemos esquecer que hoje na nossa atual sociedade nos deparamos com indivíduos com nível superior que se enquadram como analfabetos funcionais, aí que entra o título do meu texto “LER E ESCREVER E SUAS COMPLEXIBILIDADE”, o assunto é tão polêmico e complexo que são divididos por níveis de alfabetização funcional.
Em minha opinião o buraco é mais embaixo coberto por um enorme lençol branco, ou seja, o processo é histórico, com uma enorme influência da relação escola com o trabalho. Em uma matéria recente da Revista Nova Escola ANO XXV – Nº 230 – MARÇO 2010 no caderno O X DA QUESTÃO, demonstra claramente a posição constrangedora do Brasil no ranking de desenvolvimento da Educação, evidenciando que é preciso investir muito mais para melhorar a situação do analfabetismo. O Brasil aparece na incômoda 88º posição longe dos nossos vizinhos Argentina, Uruguai e Chile, vale a pena ler a matéria irão ver que para sanar essa situação desagradável é preciso romper com á infraestrutura de poderes, dar livre arbítrio ao ser humano no que diz respeito à educação, ao acesso as fronteiras do conhecimento. Deixarei aqui um poema de João Cabral de Mello Netto no qual trabalhamos na disciplina LEITURA, GÊNEROS TEXTUAIS E PRÁTICA SOCIAIS com a professora Renira que vem de encontro com minha inquietação diante do tema exposto, onde o escritor afirma em seu poema “TECENDO A MANHÃ, que o "hoje" é nosso para formarmos uma nova sociedade. Cada um pode fazer a sua parte, contribuindo com o coletivo, através da percepção dos problemas sociais que assolam o Brasil e do engajamento para a resolução destes”.
TECENDO A MANHÃ
Um galo sozinho não tece uma manhã:ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe o grito que ele e o lance a outro; de um galo que apanhe o grito que um galo antese o lance a outro; e de outros galos que com muitos galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. .....................................................
Muitos devem estar se perguntando por que tudo isso, se a tarefa era escrever sobre: A ESCRITA EM TEMPOS DE NOVAS TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO, fazendo paralelo da entrevista com a pessoa analfabeta e dos filmes CENTRAL DO BRASIL E NARRADORES DE JAVÉ, o que posso dizer que meu entrevistado me fez lembrar muito dos filmes mencionados, a partir das perguntas: De que maneira, atualmente, você se comunica com quem mora longe? Antes disso, como você fazia para se comunicar com essas mesmas pessoas? A escrita faz falta? Em que situação?
Bom! Meu entrevistado tem 45 anos, solteiro seu nome é Paulo Tadeu de Sousa Neves aos três anos de idade teve paralisia infantil, tem uma deficiência em seu antebraço e mão direita características essa que o levou ao abandono escolar ainda no primeiro semestre do 1º ano, devido às chacotas de outros alunos e troca de sua primeira professora na qual ele tinha um enorme carinho, na chegada da nova professora perdeu o interesse pela escola e pelos estudos.
Paulo trabalha em uma empresa de turismo “VIAÇÃO ULTRA”, há vinte e três anos mesmo sem ter contato com a leitura e escrita da forma convencional da sociedade, consegue levar a vida de maneira simples e com honestidade. Diz que nunca precisou fazer contato com outras pessoas, sendo que mora com seu irmão e sua mãe, a não ser uma vez ou outra, com uma irmã que mora no Guarujá através do uso do telefone, tecnologia essa que ele domina muito bem, através da memorização dos numerais. Ressalta que a escrita faz falta na sua vida em momentos burocráticos como contrato de locação, uma vez que mora de aluguel, onde solicita ajuda de sua sobrinha formada em direito, sem esquecer dos momentos de receber seu pagamento que tem que fazer uso dos caixas eletrônicos. Recentemente teve uma experiência muito desagradável devido não saber fazer uso de algumas tecnologias que requer o mínimo de leitura, o uso dos caixas eletrônicos tendo que pedir ajuda para fazer saques, foi furtado sem que percebesse por pessoas do próprio ambiente de trabalho, é nesses momentos que ele sente muita falta da leitura e escrita.

domingo, 1 de agosto de 2010

Tecnologia e evolução, facilidade para comunicação.

Hoje podemos dizer que com a evolução eminente, temos novas maneiras para: comunicar, interagir, e resolver as coisas. Às vezes esquecemos da escrita o que é um mal que tentamos corrigir. Visando sempre a melhoria buscamos novas maneiras de transpor nossos pensamentos e atualmente a tecnologia permite uma facilidade maior para nos comunicarmos e tornamos acessíveis ao mundo sendo capaz de mostrar o quanto essa evolução é poderosa para o crescimento. Pois desde o início dos tempos o homem aprende, interage, aperfeiçoa e modifica tudo o que lhe rodeia e a necessidade dessas mudanças é algo inerente ao ser humano que serve para impulsioná-lo na construção de melhorias para si, para os seus semelhantes, rumo ao progresso e evolução, e não poderia ter sido diferente com o nosso sistema de escrita, que foi criada para registrar, transmitir idéias, pensamentos e para facilitar a comunicação humana, a onde á evolução junto com a tecnologia permitem o acesso mais fácil a meios de comunicação.

O homem primitivo criou a escrita ideográfica utilizando imagens e figuras que pudessem representar suas idéias, a decifração do significado, com o objetivo de melhor entendimento e compreensão e com isso provocou um impulso para uma evolução e assim chegando a uma convenção da escrita, os desenhos passaram a ser substituído por letras, perdendo o valor ideográfico, assumindo a função de representação fonográfica. Então chegamos à escrita alfabética, passada por etapas e fases de aperfeiçoamento, sendo representada por sílabas, com forma e direção convencional.
Chegamos assim aos meios de comunicação, com a necessidade do ser humano de ampliar e facilitar seu contato com o mundo. Entre essas criações passamos pelo simples rádio, televisão, telefone e nos dias de hoje as inovações e mudanças crescem em piscar de olhos com tecnologias avançadas, atendendo uma população globalizada.

Nos tempos vividos, observamos que as mídias eletrônicas não se limitam apenas aos textos verbais. As palavras, imagens, sons, ações e sentimentos também são utilizados para se comunicar pela ferramenta do computador, que hoje permite uma integração muito maior com a escrita que era morada dos pergaminhos e livros, e que a cada dia ganha vida nova pelo computador, tendo a vantagem e a possibilidade do leitor opinar, com seus desejos, reflexões, anseios referente ao texto lido e podendo até interferir no resultado final dessas produções.

Por comodidade ou razões culturais a impressão do conhecimento já não é o único meio utilizado, o monitor do computador trás as informações necessárias ao homem.
Os textos estão voltando a ser orais convertidos em memórias eletrônicas. Podem ser gravados de acordo com a fala das pessoas. O poder da linguagem está mais forte do que nunca, tudo isso corresponderia ao progresso de forma positiva se não houvesse o esquecimento das classes menos favorecidas que não tem acesso à aquisição da leitura e escrita, pois a lei que rege hoje em dia é a do consumo, que modifica os valores, transpassa as necessidades e chega ao superficialismo.

Em entrevista realizada com uma senhora de 45 anos que não domina a leitura e escrita, pude perceber como ela se socializa, interage e lida com suas dificuldades diárias por não ter tido a oportunidade de estudar e freqüentar uma escola, somente aos 15 anos de idade teve um breve momento para aprender basicamente seu nome e o conhecimento de algumas letras, segundo ela, a leitura e a escrita só lhe fazem falta quando precisa utilizar o caixa eletrônico e precisa pedir ajuda aos atendentes do banco, em seu cotidiano aprendeu a seguir seus instintos driblando a ausência dos seus conhecimentos. Seu meio de comunicação mais utilizado é o celular.
Embora não tenha estudado, incentiva o filho de 8 anos a frequentar a escola e relatou que gosta quando ele lê livros a ela e afirma que se não precisasse trabalhar tanto, voltaria a estudar.

Ressaltando o filme, Narradores de Javé, observamos uma cidade inteira onde o povo não sabe ler nem escrever seu próprio nome se deparam com a necessidade da escrita, na luta contra a expansão de uma represa, que tomará o lugar de suas casas. Estes não sabem escrever, mas contam histórias com grandezas de detalhes. A oralidade faz parte do cotidiano superando as dificuldades e quando necessário recorrem a um escriba para registrar seus pensamentos ou necessidades. Experiências como essas estão presentes em todos os lugares a todo o momento. Muitas vezes não são observadas nem percebidas. Pessoas analfabetas se sociabilizam, participam de práticas sociais embora tenham defasagem em muitas habilidades e atitudes necessárias para uma prática ativa, capazes de criarem um impacto social.

Mais o que fica registrado é que novas tecnologias são necessárias e sempre bem vindas, mas não devem ocupar o lugar da representação gráfica e sim andar lado a lado, por que essa foi a melhor conquista do ser humano, a fim de não permitir que suas palavras se percam ao vento, que seus sentimentos não sejam esquecidos, que suas vidas, lutas e conquistas sirvam sempre de exemplo e aprendizado, então a tecnologia permite uma facilidade maior para nos comunicarmos e nos tornamos acessíveis ao mundo e permite que mesmo novos conceitos possam agregar valores a velhos.
Sendo assim fica interessante ressaltar que a escrita transmite nossos pensamentos de maneira tangível e clara ela permite também várias maneiras mesmo que por simbolismo de se fazer o mesmo.

Nota: Segundo David Olson (1997) “A aprendizagem da leitura e escrita é essencial para a formação das sociedades burocráticas modernas e contribui para o desenvolvimento do pensamento critico”.A alfabetização na cibercultura deve ser praticada de forma produtiva dando oportunidades iguais à todos, quanto maior a oportunidade maior será a inteligência e o desenvolvimento da consciência. Alcançando o resultando de um novo letramento focado com o uso da internet, seguindo os instintos mencionados no início do texto, baseados em melhorias, progresso e evolução. Aplicados aos indivíduos indistintamente independentes de sua classe social ou condição financeira.

Viviane Araújo
RA: 0913689

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Era da Comodidade

Já é senso comum ouvir que os jovens de hoje leem pouco e passam horas e horas na internet, em salas de bate papo, redes sociais e outros, escrevendo de forma abreviada e repleta de “erros” na norma culta da língua portuguesa. Também é muito comum ouvir que antigamente, a correspondência era apenas por cartas, que relatos de quem viajava ou morava longe, era através dessa forma de comunicação, uma vez que o telefone não era acessível a todos e que nem falávamos de internet ainda.


Também já ouvimos que muitos povos desapareceram sem deixar nada registrado quanto a sua cultura e seus costumes – todos passados de geração em geração por via oral. Todas essas “verdades” que já ouvimos muitas vezes durante o curso de Pedagogia ou até mesmo na Pós Graduação foram lembrados por mim ao ler os textos, realizar a entrevista e para embasar minha opinião na construção desse texto.

Uma das frases que mais me chamou a atenção na entrevista realizada, foi justamente em relação aos meios de comunicação. Ana relatou que após ter adquirido um telefone, nunca mais se preocupou em ter que escrever uma carta para os pais e irmãos, no Rio Grande do Norte. Comunica-se apenas pelo telefone, pois é mais “fácil”. A última carta que Ana tentou escrever foi em 1994, quando estava grávida de seu primeiro filho e era apenas :”mãe, meu filho nasceu”.

Acredito que a facilidade e a rapidez do telefone extinguiram um pouco a importância da escrita de cartas para a comunicação de parentes, por exemplo. Em suas tarefas diárias, Ana raramente utiliza a escrita – para preencher o ponto no local de trabalho, por exemplo, conta com a ajuda de uma colega que anota os horários de entrada e saída; Ana apenas assina o nome no local indicado. O marido a ajuda no banco, ela faz a lista de supermercado de cabeça e já sabe os produtos que precisa comprar, pois vive a mesma rotina há tempos.

Acredito que esse cenário faz com que Ana e tantos outros brasileiros não vejam a escrita com tamanha importância. Tudo o que ela precisa fazer, faz oralmente. E da mesma forma podemos transpor para o filme Narradores de Javé – a história do povoado do Vale de Javé eram mantidas oralmente, e os moradores, ao decidir que precisavam registrar “oficialmente” a importância de Javé, depararam-se com o empecilho da escrita. Podemos dizer que a vida de Ana aqui em São Paulo também não tem nenhum registro – tudo o que lhe acontece aqui é repassado aos familiares no Rio Grande do Norte oralmente, tal qual um povo que repassa sua tradição oralmente.

Com todas as “novas tecnologias”, o conceito que leitura e escrita que tínhamos também mudou, assim como apresenta Magda Soares no texto “Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura”. Refletindo sobre a utilização da era digital para ler e escrever, acredito que nós professores temos que pensar sobre nosso papel na formação dos alunos, pois é necessário que contribuamos para que eles desenvolvam um modo de pensar e agir que possibilite captar a realidade enquanto um processo, se pretendemos contribuir para que os educandos sejam sujeitos das transformações sociais.

É imprescindível que leve-se em conta a diversidade social e cultural presente em cada realidade escolar, pois a forma como cada aluno vê e compreende o mundo é única e os conhecimentos e saberes que acumula também são únicos e devem ser respeitados e valorizados, pois somente dessa forma estaremos caminhando para a inclusão e a participação social democrática. Acredito que para a educação e a alfabetização ter sentido para Ana, por exemplo, ela deve instigá-la a pensar em seu orçamento doméstico, no nome dos produtos que precisa adquirir no supermercado, no nome e número do ônibus que a leva para o caminho desejado, em como preencher o ponto no trabalho... coisas pequenas, mas que fazem parte de sua realidade.

Ana Carolina C de Carvalho
RA 0913579

domingo, 26 de outubro de 2008

Escrito por Marina (10 anos)

Eleuza Aparecida Ribeiro, aluna da disciplina Prática de Ensino III, da Sumaré, reenviou a mensagem que segue.
Sugiro que leiam com muita atenção o texto escrito por Marina, que tem apenas 10 anos de idade.
"Queridas profª, a Marina é filha da Sandra, da nossa turma de Pedagogia( SPEM1A)
- Segue texto escrito pela Marina (minha filhinha de 10 anos, completados agora no final de setembro).
Fala sério, pessoal!!!!!!!!!!!!!!!
Eleuza, se puder, envie para Gracia e para a Ziláh, pois sei que elas vão gostar de ler este texto escrito por uma criança!
bjs
Sandra Paiva "


O Mundo hoje em dia.

Hoje, o mundo está diferente do dia que eu nasci.
Quando eu era bebê, mesmo não entendendo o que me diziam e chorando por tudo, eu era feliz por saber que eu vivia num mundo muito bonito e colorido.
Eu sorria ao respirar o ar puro e ao ver as árvores (enormes) à minha volta.
Eu ficava contente quando via os amigos se cumprimentando e as pessoas respeitando umas às outras.
Eu ria quando via passarinhos pousados nos grandes e quebradiços galhos das árvores velhas e grossas à minha volta.
Eu respeitava a natureza, apenas por saber que ela existia, por sentir sua beleza, ver suas formas e olhar para o céu azul escuro, e estrelado, à noite.
Hoje, não é mais assim.
Hoje, nesse mundo cinza, com esse monte de tecnologia “avançada” e com pessoas dominadas por dinheiro e televisão, eu não sou mais tão feliz assim.
Hoje, há pessoas que não compram para viver.
Elas vivem para comprar!
Quantas pessoas já não morreram por causa de jóias?
Quantas pessoas trabalham duro cada segundo de sua vida, por algumas notas de dinheiro?
Esse não é o meu mundo. Não é onde eu escolheria viver.
Agora, você está lendo esse texto, você deve com certeza estar pensando:
“puxa, é verdade”, mas será que depois de ler, você vai fazer alguma coisa?
Não!
Você simplesmente vai esquecer minha obra, vai viver sua vida sem ligar, porque é difícil.
Ora, se mudar não fosse difícil, o mundo seria bem melhor, não acha?
Veja.
Eu sou apenas uma criança normal de 10 anos, mas já tenho consciência disso.
Mas eu ficar aqui escrevendo, não vai resolver.
As pessoas pararam de ajudar, simplesmente porque é difícil.
Você conhece a história do rio Tâmisa? Ele estava sujo. Mas tão sujo, que não se podia beber sua água sem se intoxicar.
Mais ou menos tipo o rio Tietê, daqui de São Paulo.
Sabem, o Tâmisa foi limpo. Mas durou 20 anos.
Têm noção do que são 20 anos? Pois é.
Mas agora ele é um rio bonito e limpo.
E sabem por quê?
Porque não desistiram.
Era difícil, mas eles continuaram. Apesar de tudo e de todos, eles persistiram.
E hoje, perto do Tâmisa é legal de se morar.
Na escola, eu sou conhecida porque sei desenhar muito bem.
Meus amigos dizem assim:
-Ah, queria desenhar como você.
-Como você consegue?
E eu respondo que eu nunca desisti de tentar. Nunca.
Desde os meus rabiscos, até os bonequinhos palito, depois para as casinhas, para os cães, gatos, ratos, até eu ganhar prática, e bem depois disso, eu nunca desisti.
E hoje eu sei.
Porque eu tentei.
Guardem essas 9 palavrinhas para o resto de suas vidas, e se lembrem delas nos momentos difíceis.
“Não sabendo que era impossível, foi lá e fez”.

Autor: Marina Paiva Ribeiro.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O Grupo de Campo Limpo

Hoje eu me sinto totalmente gratificada depois de uma reunião com o grupo de educadores que fazem parte do projeto de alfabetização de adultos da Cúria Diocesana de Campo Limpo/SP, ligado ao IBEAC.
Encerrando as atividades de formação de 2008, foi feita a apresentação de alguns trabalhos realizados com suas turmas e pude perceber o tamanho do compromisso que estes educadores têm com os aprendizes. Com todas as dificuldades, seja de formação ou mesmo de desenvolvimento do trabalho, eles realizaram coisas incriveis, razão pela qual eu abro este espaço para que publiquem, em resposta a um desafio lançado, os relatos de suas experiências.
Vai ser "de Campo Limpo para o mundo".
Parabéns, colegas.
Esperamos vocês por aqui.
[ ]s
Zilá

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Independência ou morte? Não, não... Leitura de mundo

O texto que segue é uma contribuição enviada por nosso colega Rodrigo Augusto Fiedler do Prado Lemos, da turma D.

Independência ou morte? Não, não... Leitura de mundo


Teria sido mais fácil acordar se não fosse pelo frio fora de época. Os cobertores múltiplos confundiam-se ora com o próprio corpo, ora com a calefação artificial da qual não precisamos nos trópicos. Mesmo assim, aos toques insistentes de um rádio-relógio, abri as inertes retinas e vi que pela janela o céu se mostrava cinza.
Num sem passo apressado, pus roupas como quem veste coragem e, sem desjejum algum, saí rumo a estação do metrô. O dia prometia inigualáveis aventuras... Todos os pormenores deveriam fazer-me atento. As imagens quadráticas a vislumbrar de um simples vagão, as esquálidas estruturas de uma cidade imensa, embora frágil, os bairros cheios de sotaque, os transeuntes, o céu cinza, da cidade cinza. As cinzas estruturas concretas armadas de cada estação.
No Tatuapé encontrei a moçada: jovens barulhentos à espera do pseudo-guia (outrora mestre) que os levaria pelos quatro cantos do poligonal centro de São Paulo - geométrico, arquitetônico, multifacetado centro. Havia mochilas, sacolas, violão, lanches secretos, sorrisos maravilhosos e muita, mas muita felicidade no ar. Cheguei a pensar que o céu muda de cor com tanto alto astral. Embarcamos.
A cada estação uma novidade, no alto de minha enorme experiência como guia turístico de grandes cidades (mentira, mentira), ia passo a passo mostrando curiosidades que margeavam a linha do metropolitano: a catedral da Congregação Cristã, a antiga fábrica dos Moinhos Santista, o centro de migração nordestina, o vale do Tamanduateí, o treme-treme. Descemos na Sé e mergulhamos nos subterrâneos sem paisagem de São Paulo.
Em poucos instantes, graças à competência veloz dos trens da linha azul, atingimos nosso primeiro destino: a Luz - um universo de gentes de todos os lados, arquiteturas britânicas, labirintos levando a todos os cantos. Um apanhado de pessoas sem história, de estórias sem pessoas, de migrantes, caipiras, suburbanos, estudantes, marafonas, meretrizes, traficantes, hotéis de quinta, pocilgas, pardieiros e pásmem, um apanhado de vida. Vida viva, vida concreta, vida materialistamente histórica. Uma vida de contrastes onde o belo e o feio se fundiam em pés direitos de construções à míngua misturadas com edificações restauradas... via-se ali os efeitos da roda da fortuna e da destruição.
Seguimos, sob um sol tímido, mas já aparente, rumo à nossa delícia gastronômica: o Mercadão Municipal da Cantareira. Segunda parada. No caminho entre as ruas Florêncio de Abreu, Paula Souza, 25 de março e Barão de Duprat, discussões ideológicas sobre política, economia, partidarismos confundiam-se com as explicações que dava sobre a origem dos comércios, a escolha dos imigrantes, etc.. O menino Harry insistia em defender Maluf, Marcela defendia Marta, e todos defendiam a vontade de comer o belíssimo e famoso lanche de mortadela (na verdade, eu acho esse lanche um abuso, um absurdo, uma ode ao desperdício, mas...). Música, rock e cultura também eram assuntos discutidos à exaustão. Hummm, isso dava uma fome!
Lá no mercado, nos separamos e eu marquei um horário neutro para nos encontrarmos - às onze - mas antes disso já estávamos juntos de novo. Não sei, parecia uma simbiose, queríamos estar juntos todo tempo, comentando sobre frutas, vitrais, preços exorbitantes, preços módicos, sabores exóticos e papos de aranha. Queríamos fazer rock'n'roll, queríamos cantar, tocar e aplaudir, queríamos sorrir, quem sabe chorar. Curiosidades e emoções andavam lado a lado assim como nós: mais de vinte jovens em busca do mundo, no centro de um mundo, no centro do centro, indo ao centro de si.
Sentamos do lado interno do velho edifício e, mesmo sem pedirmos autorização, sacamos a viola do saco e começamos algo longe de ser chamado de "jam". Acordes equivocados, vozes desafinadas, palmas sem ritmo, valia tudo. Gordinho foi de Skank e eu de Cazuza, arriscamos um uníssono em Cássia, passamos pelos Paralamas e claro, desembocamos no lugar comum, quando alguém por brincadeira gritou:
- Toca Raul !!!
Após o breve sarau, continuamos nossa empreitada. Fomos à Boa Vista, ao Convento de São Bento, ao Martinelli. No Martinelli, Maria, que já esteve nos EUA percebeu se tratar de uma réplica do edifício Dakota, aquele, em frente ao Central Park, onde um tal de Chapmann alvejou fatalmente John Lennon. Seguimos pela Quinze, conhecemos as Bolsas, prédios nobres, Times Square paulistana. De repente, acenamos uma vista inusitada: um homem e seu violão, dedilhando canções ao esmo, para pássaros, transeuntes apressados e claro, para nós. Ouvimos atentos seus acordes e depois, via de regra, demos a ele algumas moedas. Aline, Jay e Kay com seus respectivos namorados, ficaram encantadas. Rumamos para a próxima parada: Pátio do Colégio.
Assim que avistamos o primeiro marco zero da São Paulo de Piratininga, vimos que a visita renderia mais do que o esperado. Um grupo de "performers" ensaiava uma coreografia oriental em pleno pátio, sobre as pedras do calçadão. Arthur se deslumbrou com o que viu e , eu, sagaz, percebi seu deslumbre. Chamei-o para entrevistar a diretora do espetáculo. Foi bárbaro.
Dentro da igreja, aquela, fundada por Anchieta, comecei a explanar sobre os desvarios da Companhia de Jesus, que, ao lado de Francisco Pizzarro, ajudou a dizimar as tribos ameríndias viventes por aqui no século XVI. Fui chamado à atenção. Uma historiadora jesuíta me coibiu, censurou. Disse-nos que aquilo tudo que eu professava era "mentira". Tudo bem, num país democrático as pessoas têm, inclusive, o direito de censurar (contraditório, não?). Aquilo nos gerou uma sensação de desconforto e então seguimos para a Praça da Sé. Dos muitos atrativos do coração paulistano, escolhemos o Caixa Cultural, que possuia uma mostra sobre Jorge Amado, um de meus ídolos.
A mostra era fantástica. Havia esteiras de palha no chão cujo objetivo era, de fato, fazer-nos descansar. Assim o fizemos, quando, do nada, surgiu uma guia, historiadora (porém bem diferente da anterior, lá do Pátio. Ela nos deu uma verdadeira aula sobre Jorge e suas baianidades. Falou-nos das obras em exposição e claro, sobre a biografia do autor mais molemolente de nossa literatura.
Alguns não gostaram, outros, demasiadamente cansados, demonstravam que o dia já se findava. Decidimos então encurtar o passeio e fomos rumo à linha de chegada: Praça da República. No caminho, mostrei à turma a Rua Direita, Praça do Patriarca, Líbero Badaró, Prefeitura e paramos por alguns instantes sobre o britânico Viaduto do Chá. Vislumbramos uma São Paulo que não conhecíamos: verde, singela, tranqüila e bela. Mães de Santo, ciganas, meninos de rua e mendigos já não mais enfeiavam o espectro caótico, porém cosmopolita e desenvolvido da nossa São Paulo, pelo contrário, tornavam-se espectros necessários para a compreensão de um mundo infelizmente desigual, mas, que mesmo assim, abrigava a todos.
Na frente do Municipal, a galera do teatro não se fez de rogada. Emocionaram-se tamanha era a beleza do prédio, sua arquitetura, sua história, suas criptas, seus "Dons Giovannis", "Toscas", "Madames Butterfly", "Clara Crocodilos" e, claro, seus Mários, Oswalds, Tarsilas e Anitas todos vivos, de braços abertos nos esperando em plena escadaria. Era 2008, mas poderia ser um dia de fevereiro de 1922.
Na Barão de Itapetininga, ainda nas cercanias do teatro, um "homem-estátua" cativou nossa turma. Mônica resolveu dar-lhe um trocado e quase se assustou quando ele se mexeu, imprimindo na brincadeira, um ar para lá de sensível. Ela ganhou um brinde, e saiu feliz da vida. Logo á frente, a turma do Racional, um movimento charlatão que mescla gnose com espiritismo chamou muito a atenção da maioria. Precisei intervir, pedindo para que não dessem atenção. Enfim, nossa trilha urbana de leitura sem livros e sem letras estava entrando no epílogo. Faltava forrar os estômagos, quando me deparei com uma lanchonete bem típica do centro de São Paulo em plena República. Entrei e indaguei ao balconista se, caso comprássemos refrigerantes, poderíamos comer nossos lanches até então secretos. Ele não hesitou, todavia, cobrou cinco reais por cada coca-cola.
Fiz com que todos entrassem e se acomodassem em cadeiras quase desconfortáveis. Dominamos o espaço. Arthur, Vítor e eu, em conjunto de Ísis e sua fiel irmã-escudeira, arrumamos as mesas e começamos um abrir desconexo de caixas, potes, cumbucas e sacola. Brotaram do nada bolos de banana, de baunilha, de côco, quibes de sabores diferentes, pães de queijo, bisnaguinhas com frios e o mais aguardado dos lanches: o sanduíche vegetariano de Arthur. Marcela organizou a bagunça e começamos a nos servir. Comemos quase tudo, tamanha era a fome. O sanduíche de tofu surpreendeu e extrapolou as expectativas; cinco cocas foram evaporadas e um gostinho de quero mais começou a se instalar no ambiente. Oramos, brindamos, comemoramos e já sentíamos saudade de um dia que sequer havia acabado.
Para finalizar o processo de interação com um mundo tão velho, embora novo, recolhemos as sobras (não pejorativo) dos alimentos, organizamos em sacolas e procuramos a quem distribuir: foi fácil, pois na "Panamérica África utópica, mais possível novo quilombo de Zumbi", havia quem tinha fome e que sem saber que o estava fazendo, permitia que novos estudantes passeassem na sua garôa e que pudessem, de fato, curtir tudo isso, numa boa.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

O QUE FAZER COM OS ALUNOS QUE PARECEM NÃO APRENDER?

O texto abaixo é um recorte do Projeto Toda força ao 1º ano - volume 3. SME-SP, 2006 (p. 16 - 19) e tem a intenção de trazer uma referência para reflexão e incorporação à prática do educador de “dicas” para a situação :

O QUE FAZER COM OS ALUNOS QUE PARECEM NÃO APRENDER?

Depois que fizer as sondagens de escrita para avaliar as aprendizagens, dedique maior atenção àqueles alunos cujos resultados não correspondem às expectativas de aprendizagem, ou seja, que ainda não escrevem segundo a hipótese (...) alfabética. Se mostrarem avanços, mas estes ainda forem pequenos, o que fazer?
Vários aspectos merecem ser considerados, mas um deles é fundamental: precisam do seu acompanhamento diferenciado e próximo. Mesmo que contem com a ajuda dos colegas nas propostas em duplas, é indispensável a intervenção direta e constante do professor. Seu apoio será importante, em certos momentos, para incentivá-los a continuar manifestando suas idéias. A relação que você estabelece com cada um e com o que ele produz é fundamental para que se sinta capaz de aprender. Em outros momentos, porém, cabem intervenções mais explícitas para que fiquem atentos às características do sistema de escrita; é o caso, por exemplo, de quando você pede para ajudarem a escrever certas palavras, faz perguntas sobre as letras iniciais ou finais etc.
Oferecemos aqui diversas sugestões de intervenções nesse sentido (...). Com certeza você saberá adaptá-las a sua classe e às necessidades de cada um de seus alunos.
(...) Apresentamos a seguir algumas orientações gerais, que serão úteis no encaminhamento de qualquer atividade, com o intuito de criar condições para atender o maior número possível de alunos com dificuldades.

1 - De posse das sondagens realizadas e da comparação dos resultados, identifique os alunos que necessitam de mais ajuda.
Esse procedimento é essencial. É verdade que no dia-a-dia você obtém muitas informações acerca do que cada aluno já sabe. Mas as sondagens servem justamente para fortalecer essas impressões e, ao mesmo tempo, garantir que nada escape ao seu olhar. Sempre há alunos que não chamam tanto a atenção e não costumam pedir ajuda (são tímidos ou preferem não se manifestar), mas mostram, ao longo do ano, avanços menos significativos do que seria esperado, indicando que necessitam de um acompanhamento próximo – e isso não seria percebido sem a realização de sondagens periódicas.

2 - Organize as duplas de modo que os dois parceiros estejam em momentos razoavelmente próximos em relação às hipóteses de escrita.
Mais uma utilidade das sondagens: permitir que você agrupe os alunos de acordo com critérios mais objetivos. É sempre importante lembrar que a função das duplas não é garantir que todos façam as atividades corretamente, mas favorecer a mobilização dos conhecimentos de cada um, para que possam avançar. Lembre-se também de que uma boa dupla (a chamada dupla produtiva) é aquela em que os integrantes fazem uma troca constante de informações; um ajuda de fato o outro, e ambos aprendem. Preste muita atenção às interações que ocorrem nas duplas e promova trocas de acordo com o trabalho a ser desenvolvido.

3 - Organize a classe de modo a deixar os alunos que mais necessitam de ajuda mais próximos de você (...)
A tarefa do professor é altamente complexa. Inúmeras variáveis intervêm para que o objetivo de favorecer a aprendizagem de todos seja alcançado. Às vezes, detalhes permitem gerenciar melhor a ajuda que você pode oferecer. Um deles é o modo de organizar o espaço da classe. Se os alunos que demandam mais apoio e se dispersam com facilidade estiverem mais próximos a você, será mais fácil observar, orientar e intervir no trabalho que realizam.

4 - Explique a todos o que deve ser feito em cada atividade, mesmo naquelas complementares, propostas apenas para os alunos que já escrevem convencionalmente.
Este é mais um cuidado para potencializar a ajuda valiosa que você pode oferecer aos alunos que têm dificuldade. Se todos os alunos já sabem o que precisam fazer, seu apoio será mais produtivo para os que necessitam dele. Não se esqueça de explicar também a atividade complementar, a ser feita apenas por aqueles que trabalham num ritmo mais rápido, por lidarem melhor com os conteúdos propostos.

5 - Após ter dado orientação para todos os alunos, caminhe entre eles e observe seus trabalhos, especialmente os daqueles que têm mais dificuldades.
É importante circular entre os alunos enquanto eles trabalham, por diversos motivos: avaliar se compreenderam a proposta, observar como estão interagindo, garantir que as informações circulem e que todos expressem o que sabem. Quando necessário, procure questionar e interferir, evitando criar a idéia de que qualquer resposta é válida. Observe também se o grau de dificuldade envolvido na proposta não está muito além do que podem alguns alunos, se não está excessivamente difícil para eles.
Cada atividade (...) deve propor desafios destinados a favorecer a reflexão dos alunos. Muitas vezes você deverá fazer ajustes: questionar alguns para que reflitam um pouco mais, oferecer pistas para ajudar os inseguros. (...)

6. Se tiver muitos alunos que dependem de sua ajuda, acompanhe algumas duplas num dia e outras no dia seguinte. Lembre-se de que é necessário planejar diariamente atividades dedicadas à reflexão sobre o sistema de escrita (de escrita ou de leitura pelo aluno), já que esta é uma das prioridades (...) na fase de alfabetização inicial.
Não podemos ajudar todos, o tempo todo. Por isso, você precisa se organizar para melhorar as intervenções do ponto de vista qualitativo. Uma forma de garantir esse acompanhamento é sempre dar atenção particular a alguns alunos a cada dia. Além disso, a organização do trabalho em duplas permite que, mesmo nos momentos em que não contam com sua ajuda, possam trocar informações e se confrontar com idéias diferentes.